Ética e “Compliance”

Lígia Maura Costa é advogada, professora titular da Fundação Getúlio Vargas (EAESP|FGV) e coordenadora do FGVEthics. Aborda temas anticorrupção, compliance e governança corporativa. É presidente da Comissão Permanente de Governança e Integridade da OAB-SP e conselheira independente.

e-mailligia.costa@fgv.br


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Lígia Maura Costa

Artigo

O Perigo do ESG washing e a Necessidade de Transparência nas Práticas Corporativas

As empresas estão sob crescente pressão para melhoria de seus resultados ambientais, sociais e de governança corporativa. Como mudanças substanciais podem ser caras e difíceis de implementar, muitas empresas adotam, simbolicamente, estruturas de governança corporativa, códigos de conduta ética e relatórios de sustentabilidade, em resposta às pressões dos stakeholders. E, talvez, seja essa a razão pela qual algumas empresas utilizam a sigla ESG de modo antiético. Elas se apresentam como socialmente responsáveis, ambientalmente comprometidas e com altos níveis de governança corporativa, mas na verdade essas afirmações nada mais são do que palavras ao vento. Essa prática antiética é chamada de ESG washing.

A cartilha de gestão do ex-CEO Jack Welch, que prioriza a maximização de valor aos acionistas, vai de encontro ao acrônimo ESG, criado em 2005 e febre, hoje, no mundo dos negócios, para a abreviação em inglês de ambiental, social e governança corporativa (ASG). O ESG traz um novo modelo de empresa, muito mais sustentável economicamente, diversificada e inclusiva. O conceito de ESG abrange práticas autênticas das empresas em relação aos três fatores de base. Entretanto, nem todos os aspectos do “E”, do “S” e do “G” são prioridades para as empresas.

É utópico pensar que as empresas não façam concessões difíceis dentre as dimensões ESG, já que dificilmente uma empresa conseguirá ser líder em todos os aspectos ESG.

Atingir metas ESG não é uma corrida de velocidade, mas sim uma longa e dura maratona, vencida a cada dia, durante um longo período que nunca terá fim. O ESG é um processo e não o resultado. A adoção de práticas ESG é vista como uma forma de garantir que empresas sejam íntegras e responsáveis social e ambientalmente, gerenciando seus negócios de modo ético e transparente. Nos dias de hoje, os principais stakeholders, em particular os investidores, levam em conta os fatores ESG nas suas decisões de investimento, buscando sempre empresas que adotem práticas éticas, sustentáveis e responsáveis. Por essa razão, a cada dia cresce mais a preocupação com o ESG washing.

Como identificar uma empresa ESG washing?

Para evitar envolvimento com empresas que praticam o ESG washing, o primeiro passo é uma análise cuidadosa das informações apresentadas por ela, nos seus relatórios de sustentabilidade, sites corporativos, certificações e outras fontes confiáveis, antes de tomar qualquer decisão, seja de investimento ou mesmo de consumo de produtos e serviços. Em geral, as empresas que praticam ESG washing quase sempre fazem declarações extremamente vagas, não fornecem dados, nem evidências sólidas que comprovem suas declarações. Essas empresas sequer implementam, realmente, quaisquer mudanças substanciais nas suas práticas e condutas de negócios. Isto porque ao contrário de relatórios financeiros, os relatórios ESG são, em grande parte, voluntários, não padronizados e não auditados.

A falta de transparência ou a falta de evidências e de dados sólidos é uma importante “red flag” (bandeira vermelha) de ESG washing.

O exame do comprometimento da alta administração com os aspectos ESG, que pode ser observado através das suas ações e declarações, é também útil na identificação do ESG washing. Se as condutas e ações da alta administração não estão alinhadas com as declarações feitas, tudo leva a crer que estamos diante de uma empresa que pratica ESG washing.

Ao contrário, as empresas comprometidas com ESG apresentam um histórico de desempenho responsável e sustentável. De fato, as empresas engajadas em práticas ESG apresentam políticas claras e mensuráveis, através de indicadores de desempenho chave (KPIs), para informar, de modo transparente, todos os stakeholders. Uma política ESG está integrada à estratégia de negócios da empresa e passa a fazer parte da cultura corporativa.

Muitas empresas estão engajadas na jornada ESG. Mas uma cultura organizacional de melhoria contínua em ESG somente será efetiva, se o ESG não apenas for levado a sério, mas sistematizado e vinculado aos objetivos estratégicos da empresa. Este é o único remédio contra o ESG washing, seja ele governance-washing (governança corporativa), greenwashing (ambiental) ou bluewashing-washing (social).

Lígia Maura Costa | Abril 2023

para o Portal Pensamento Corporativo

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