Conselhos de Administração | Agenda ESG | Pauta, responsabilidade e demanda

A presença da Agenda ESG nos Conselhos de Administração.

As empresas com agenda ESG entraram no radar dos investidores no Brasil há pouco tempo, trazendo nova demanda ao mundo corporativo, com reflexos no mercado financeiro e no valor das ações. Esse conceito é sólido, não é novo e não é moda.

Há mais de quinze anos, grandes empresas na Europa aderiram, com força, aos movimentos de sustentabilidade e responsabilidade social e para quem acha que desenvolvimento sustentável é algo recente, o termo começou a nascer na década de 1960 com os primeiros movimentos ambientalistas, tomou corpo na Suécia em 1972, foi reconhecido na Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) em 1987 e se consolidou, mais amplamente, na Rio-92.

Ao comentar sobre a abrangência do termo ESG, com impacto no mercado financeiro e no humor dos investidores, é preciso relembrar as definições de sustentabilidade, responsabilidade social e governança corporativa, para podermos compreender a razão pela qual, investidores e fundos de investimentos passaram a exigir a presença da pauta ESG nos Conselhos de Administração.

Você sabe o que é sustentabilidade?

A maioria das pessoas acredita saber, com objetividade, o que é sustentabilidade. Recentemente, perguntei ao presidente de uma empresa do setor atacadista se a sua organização possuía critérios de gestão da sustentabilidade. Ele me disse que a resposta era óbvia, claro que sim! Então, pedi a ele para definir o termo “sustentabilidade” e ele não conseguiu. A resposta foi rasa: “temos cuidado e política de respeito ao meio-ambiente, somos uma organização que preza pela sustentabilidade”.

Não! Isso não define sustentabilidade. Assim, antes de falar sobre ESG, sinto-me na obrigação de esclarecer as bases desse conceito.

Sustentabilidade e Responsabilidade Social

A sustentabilidade também engloba as questões ambientais, acrescida da pauta econômica em um cenário de longo prazo com gestão das ameaças e condições de sobrevivência.

Na base da pirâmide está a consciência de que os recursos naturais são finitos, os ecossistemas possuem, de certa forma, alguma capacidade de regeneração face a agressões naturais ou acidentais e as cadeias de produção e consumo seriam drasticamente afetadas em caso de colapso, impactando na Economia, comprometendo a qualidade de vida das futuras gerações.

O termo desenvolvimento sustentável nasceu a partir da consciência geopolítica e empresarial quanto aos conceitos e ameaças. Não há como impedir o desenvolvimento econômico, mas há como administrá-lo seguindo normas, padrões e reconhecimento de uma gestão sustentável com visão de futuro e isso, inevitavelmente, coloca maiores responsabilidades nos ombros das organizações em todo mundo.

A CMMAD define desenvolvimento sustentável assim:

Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazer suas próprias necessidades

A dimensão social foi acrescida ao conceito de sustentabilidade, pois muitos problemas ambientais podem ocorrer em consequência da pobreza e da deficiência educacional, fazendo com que movimentos capitalizados atuem na redução das desigualdades globais.

Por fim, a gestão da sustentabilidade tem como visão a coexistência harmônica entre o meio-ambiente, o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social. Contudo, essa harmonia ainda não existe além dos protocolos de intenção e no atual ritmo de utilização dos recursos naturais, o futuro das próximas gerações está comprometido, assim como o futuro de muitas empresas.

Sustentabilidade e responsabilidade social no âmbito empresarial

Informações sem fronteiras e com fácil acesso criam consumidores conscientes em relação às questões ambientais e qualidade de vida, fazendo com que as empresas considerem esses temas em seus planejamentos estratégicos. A demanda por redução da desigualdade, inclusão social, diversidade e todos os temas ligados aos direitos humanos, incluindo programas educacionais, sugerem que as organizações entendam que o mercado consumidor e os agentes financiadores darão preferência para empresas e produtos que tragam tais atributos em seu DNA.

Empresas que buscam longevidade e perpetuidade de resultados devem, também, gerenciar os recursos naturais de forma responsável e desenvolverem sistemas de produção mais eficientes.

Marcas que são socialmente responsáveis, por propósito e não como instrumento de propaganda, serão mais respeitadas e naturalmente tendem a gerar mais valor.

Uma empresa socialmente responsável não se restringe a prestação de contas de suas responsabilidades legais, mas em promover ações sociais que vão além disso, praticar atitudes que promovam o bem-estar interno (corporativo) e externo (comunidade), apoiar causas sociais, educação, combater o trabalho infantil, escravo, e ampliar todo esse conceito para sua cadeia logística.

Bem, agora podemos seguir com o tema principal desse artigo, a Agenda ESG que citei no início.

ESG (Environmental | Social | Governance)

    • ASG (Ambiental | Social | Governança) 

Nesse momento entra a questão financeira, societária e perenidade dos negócios e, logicamente, os interesses dos acionistas e o retorno sobre os investimentos. As boas práticas de gestão ambiental, social e de governança (ESG) merecem atenção por estarem associadas a negócios sólidos.

Empresas com agenda ESG possuem melhor qualidade de gestão e isso soa como música para os ouvidos dos investidores, bancos e gestores de fundos de investimentos, que passam a avaliar as empresas por meio da prática ESG e assim, criam índices que as classificam em níveis de gestão, sustentabilidade, governança e responsabilidade social.

Há vários índices no mercado financeiro com critérios ESG e fundos de investimentos compostos por empresas com tais práticas, que se tornaram parâmetros atrativos para investidores. São métricas que fornecem melhores informações sobre as companhias em que estão alocando capital, como a empresa se relaciona com questões ambientais ou depende de recursos naturais. Também, como está inserida socialmente e de que modo monitora a gestão da própria organização. Uma boa governança tende a garantir que a empresa é ética e pouco susceptível a corrupção e práticas ilícitas.

Governança Corporativa

Faz-se necessário clarificar esse conceito, segundo o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).

“Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas. As boas práticas de governança corporativa convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão, sua longevidade e o bem comum. Possui entre seus princípios básicos, a transparência, equidade (isonomia), prestação de contas e ampla responsabilidade corporativa”.

Gestão e Agenda ESG no mundo corporativo

Os riscos relacionados aos aspectos ESG ganharam muita importância em decorrência de recentes catástrofes, acidentes ambientais e danos irreparáveis para muitas marcas, seja por causa disso ou por outros problemas relacionados às questões sociais e direitos humanos.

Valor e imagem de marca são ativos muito importantes para as organizações, que devem ser bem gerenciados e preservados com visão de perenidade e sustentabilidade.

Assim, os Conselhos de Administração das empresas passam a exigir (ou deveriam), a presença de conselheiros focados na agenda ESG, preferencialmente com visão estratégica de negócios. Isso porque, os indicadores de sustentabilidade das empresas colocam holofotes sobre essa questão, de forma irreversível. É crescente a demanda de investidores por informações ESG padronizadas, associadas ao desempenho financeiro. As empresas que não consideram as questões sociais e ambientais em sua estrutura de gestão e governança podem sofrer impactos negativos em curto, médio e longo prazos.

Faltam critérios padronizados de ESG

Algumas empresas com maior aderência aos critérios de ESG procuram incorporar indicadores e índices em suas prestações de contas, mas quais são os critérios?

Infelizmente, ainda não há padronização e uma empresa no Ocidente pode ser considerada com boa agenda ESG, utilizando critérios diferentes de uma empresa no Oriente (e vice-versa), ou seja, ainda há um longo caminho a ser percorrido na evolução desse tema. Em adição, a não obrigatoriedade da prestação de contas da gestão ESG torna-se obstáculo e elemento de lentidão para a consolidação de um novo modelo de análise de desempenho das empresas.

Por enquanto, são os gestores dos fundos constituídos por empresas sob critérios ESG que as classificam, nesse contexto, até que uma padronização de critérios se consolide.

Coloque a Agenda ESG no radar

A ascensão da adoção de princípios ESG, por demanda natural ou ideológica, alcança o mercado investidor em amadurecimento e encontra as empresas evoluindo no tema, mas, talvez, despreparadas para lidarem com ele. Assim, o mercado começa a ver uma boa quantidade de métricas e índices que podem servir como referências críveis, mas estão longe de serem suficientes e devem evoluir, também, rapidamente.

Coloque a Agenda ESG no radar, seja você gestor, conselheiro, investidor ou outra parte interessada. Não é moda, é necessidade. Sua organização será medida por isso, cedo ou tarde. Estejam preparados para não comprometerem o futuro estratégico do negócio, valor e marca.

Orlando Merluzzi *

* Consultor independente, conselheiro de administração e sócio-gestor da MA8|MCG

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#ESG #sustentabilidade #inclusão #diversidade

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