Você sabe o que é hipocrisia socioambiental, ‘greenwashing’ e ‘socialwashing’? Esses termos serão percebidos com maior intensidade nas próximas décadas.
- Essa bolota azul atingiu, no dia 15/11/2022, a marca de oito bilhões de pessoas, segundo os dados da ONU. Isso não muda os problemas e as responsabilidades de cada um de nós, mas é preciso compreender o que nos espera para as próximas décadas. Você pode pensar: “isso não é comigo”… mas afetará o futuro de seus filhos, netos e outras pessoas. Não despreze essa realidade.
O registro do último bilhão de humanos foi há apenas onze anos e a marca de oito bilhões ocorre bem no meio da COP27, que se realiza no Egito e tem como agenda, debater soluções para questões climáticas e os caminhos para a neutralidade de carbono.
Algumas reflexões são inevitáveis:
O mundo, para poder sobreviver no próximo século, precisa, hoje, de programas sólidos e reais para educação, saúde, remédios, vacinação, justiça social, alimento, combate à pobreza, dignidade humana, saneamento básico, energia limpa e renovável, tecnologia acessível, responsabilidade socioambiental etc; está tudo lá nos 17 ODS (objetivos de desenvolvimento sustentável) da ONU e suas 169 metas. É claro que, é preciso dar os primeiros passos, mas tenho visto muito mais hipocrisia, discursos oportunistas, Greenwashing e Socialwashing, gerando receitas paralelas com novos negócios, do que ações coordenadas em busca da sustentabilidade. Lembre-se que desenvolvimento sustentável é o processo; sustentabilidade é o fim. Há um vídeo meu, neste link, onde explico os conceitos do ESG, desenvolvimento sustentável e da sustentabilidade, mas sugiro que leia este texto até o final e só depois assista ao vídeo.
O mundo necessitará, cada vez mais, de eletricidade e de sistemas que transformem energia em eletricidade. A geração e armazenamento de energia é o desafio mais importante, pois tornará viáveis os demais desafios. Com ele, a nova ordem de poder mundial e se houver equilíbrio de forças, os outros objetivos do desenvolvimento sustentável terão maiores chances de progresso. Porém, ao menor sinal de ruptura tendem a sair da lista de prioridades. Acabamos de ter um exemplo (aperitivo) com a invasão da Rússia à Ucrânia e as consequências do fechamento da torneira do gás russo para a Europa. Rapidamente, todo discurso do ambientalmente e socialmente correto foi esquecido e o carvão voltou com tudo na matriz energética europeia, em substituição à parcela de gás (se bem que os combustíveis fósseis não renováveis já representavam mais de 75% da matriz europeia em 2019). Mas e quanto ao ESG e o propósito de redução da pegada de Carbono e demais gases de efeito estufa? Bem, isso a gente vê depois…
A hipocrisia dos veículos elétricos, na cor “verde cinza escuro”
Ainda no tema da hipocrisia ambiental, tomo os carros elétricos como exemplo, produtos fantásticos em termos de tecnologia, segregadores em termos mercadológicos e prejudiciais ao meio ambiente na extração dos minérios necessários para fabricação das baterias. A eletrificação é um caminho sem volta, que tem pouco de ESG se considerarmos a cadeia completa, das minas à roda. Segundo o Mark Mills Report, é necessário utilizar a energia de cem barris de petróleo para fabricar uma única bateria que consegue armazenar a energia de apenas um barril de petróleo. A mineração de Lítio, Cobalto, Grafite, Cobre e Níquel requer a movimentação de, em média, 250 toneladas de terra com minérios, para a produção de uma única bateria de 430kg de um carro elétrico pequeno. É nessa área, a mineração e processamento de elementos nobres e metais Terras Raras, que se dará a disputa pela nova ordem de poder mundial.
A mineração desses elementos acarreta enorme danos ao meio ambiente, seja por contaminação de solo, seja pela enorme quantidade de gases de efeito estufa emitidos. Para piorar o cenário, as minas de Cobalto na República Democrata do Congo, maior produtor mundial desse elemento fundamental na produção das baterias dos carros elétricos, estão repletas de denúncias de trabalho infantil e em condições de desrespeito aos mínimos direitos humanos. A RD-Congo não é o único país com denúncias sobre impactos ambientais e sociais na extração e processamento de minérios e elementos nobres para a fabricação de baterias, painéis solares de geração de energia fotovoltaica e pás eólicas para a geração de eletricidade a partir da energia dos ventos.
A McKinsey publicou um extenso relatório deixando claro que o mundo não terá minas e minérios suficientes para atender à demanda futura (Mark P. Mills diz a mesma coisa), por causa das baterias e geradores de energia nas próximas três décadas. Além da disputa pelo poder mineral-elétrico, podemos esperar grandes aumentos de preços nas baterias e nos demais equipamentos ligados a geração e armazenamento de energia “limpa…”
As prioridades dos líderes globais parecem não ser os 17 ODS e suas 169 metas originais, mas esses temas geram ótimas pautas para receberem as luzes dos holofotes, fazerem discursos políticos e matérias jornalísticas parciais, às vezes erradas e ideológicas. Impor agendas ambientais globais com produtos “nem tão amigos do meio ambiente”, divulgando apenas as informações que interessam, passa a ser um excelente negócio.
Voltando ao início do texto, o mundo chegou à marca de oito bilhões de pessoas. Você é uma delas e vou lhe contar um segredo: em 2023, a Índia ultrapassará a China em número de habitantes.
O texto contém, propositalmente, um pouco de ironia e algumas mensagens subliminares.
Orlando Merluzzi (*)
(*) Sócio da MA8 Consulting, conselheiro independente de administração, consultor de empresas e especialista em gestão, governança e planejamento estratégico, é palestrante e criador do Portal Pensamento Corporativo e da página do @pensamentocorporativo no Instagram.
Ótima reflexão. Agradeço os esclarecimentos e por mostrar o outro lado da moeda.