Responsabilidade Social é um conceito muito amplo, que não permite sabotagem.
Governança social, propósito social, função social e outros sociais do mundo corporativo e da vida em comunidade, nunca foram tão propagados como hoje e potencializados pelas redes e influenciadores. Ainda bem que é assim e podemos ter a esperança de um mundo melhor.
Contudo, como toda onda cultural que traz mudanças com um propósito maior, haverá, na espuma, algum oportunismo, entendimentos superficiais de conceitos e às vezes, infelizmente, até um pouco de má fé.
No ambiente econômico, diplomático, político e empresarial, o “S” do Social ganhou força e visibilidade com a difusão do conceito ESG e as três letrinhas passaram a ser utilizadas como colunas extras de sustentação para uma ampla estrutura de cuidado com o bem-estar das pessoas, gestão ambiental, econômica e ética de governança, que estão muito bem definidas nas linhas e nas entrelinhas do Programa de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ver os dezessete objetivos e suas cento e sessenta e nove metas; está tudo lá).
O “S” do social, no ambiente corporativo, não está limitado às questões raciais e de opção sexual, e discursos políticos-ideológicos não podem contaminar o propósito. Promover a diversidade e inclusão, é muito mais que isso. Cotas para cor da pele, mulheres e LGBTQIA+, seja em posições de gestão ou até mesmo em conselhos de administração, podem ser discutidos, no entanto, o mesmo nível de discussão sobre pessoas com deficiência e também, sobre os profissionais 50/60+ (etarismo), não tem sido observado no mesmo tom, talvez porque não gere tanto espaço para militância e interação nos meios de comunicação.
O ambiente corporativo é espelho e reflexo do comportamento da sociedade e uma mudança cultural não pode ser imposta; precisa ser aceita e implementada naturalmente, com inteligência e estratégia. Aquilo que é imposto artificialmente, às vezes de forma violenta, tem grandes chances de não atingir os objetivos.
A militância e o oportunismo sobre o tema precisam ser evitados, para que não prejudiquem um objetivo tão nobre e um bem maior.
O equilíbrio sobre a visão do todo e não, apenas, olhares individuais sobre questões seletivas, deve ser considerado e preservado. O empresário que investe na geração de empregos, criação de riqueza e valor, precisa ser respeitado e nada melhor que o “diálogo” para que todos sigamos nos trilhos do desenvolvimento sustentável. O “S” do Social é uma questão de base, requer um olhar abrangente e aqui aplica-se muito bem o famoso chavão do “afastar-se da árvore para poder visualizar a floresta”.
Cuidado para não se deixar confundir ou empolgar com discursos repetitivos e retóricos que, na prática, causam reações contrárias ao invés de apoio. Não se consolida um propósito “no grito” e muita eloquência cansa. Isso vale para imprensa, para as redes sociais e também, para os conselhos de administração.
Orlando Merluzzi (*)
(*) Conselheiro de administração, consultor de empresas e especialista em gestão, governança e planejamento estratégico, é palestrante, criador do Portal Pensamento Corporativo e difusor do conceito E-ESG (education comes first).