ESG no Conselho de Administração. O que isso representa no futuro da empresa e no patrimônio dos acionistas?

Quero voltar a esse tema para tentar simplificar um pouco a compreensão dessas três letrinhas no mundo corporativo. O ESG não é modismo, é conceito sólido e está em expansão. Como disse o Professor Carlos Braga, da Fundação Dom Cabral, no 11º episódio da série Valor para a sua empresa, no Canal Pensamento Corporativo: “ESG é risco e por isso é pauta. É pelo risco que os conselhos verificam essa agenda. Existe um conceito no mercado que diz, pode ser que você não vire CEO ou Chairman em uma empresa por ter praticado uma agenda ESG, mas você pode perder o seu emprego por não monitorar os riscos envolvidos com esse tema”.

As empresas com agenda ESG entraram no radar dos investidores no Brasil há pouco tempo, trazendo nova demanda ao mundo corporativo, com reflexos no mercado financeiro e no valor das ações.

Há pouco mais de quinze anos grandes empresas na Europa aderiram, com força, aos movimentos de sustentabilidade e responsabilidade social e para quem acha que desenvolvimento sustentável é algo recente, o termo surgiu na década de 1960 com os primeiros movimentos ambientalistas, tomou corpo na Suécia em 1972, foi reconhecido na Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) em 1987 e se consolidou na Conferência Rio-92.

Hoje, empresas de todos os tamanhos estão envolvidas com esse conceito, para assegurar o futuro do negócio e sua existência para as próximas gerações, desde uma concessionária de veículos a uma montadora; de uma siderúrgica a uma mineradora; de um produtor rural a uma cadeia de supermercados; de um grande atacadista a uma transportadora.

Sustentabilidade, responsabilidade social e governança corporativa

Ao comentar sobre a abrangência do termo ESG (Environmental, Social, Governance), com impacto no mercado financeiro e no humor dos investidores, é preciso relembrar as definições de sustentabilidade, responsabilidade social e governança corporativa, para podermos compreender a razão pela qual, investidores e fundos de investimentos passaram a exigir a presença da pauta ESG nos Conselhos de Administração.

A sustentabilidade também engloba as questões ambientais, acrescida da agenda econômica em um cenário de longo prazo, com mapeamento, diagnóstico e gestão das ameaças às condições de sobrevivência da própria raça humana. Os recursos naturais são finitos, os ecossistemas possuem, de certa forma, alguma capacidade de regeneração face a agressões naturais ou acidentais, onde as cadeias de produção e consumo seriam drasticamente afetadas em caso de colapso desses recursos, impactando na Economia e comprometendo a qualidade de vida das futuras gerações.

Não há como impedir o desenvolvimento econômico, mas há como administrá-lo seguindo normas, padrões e reconhecimento de uma gestão sustentável com visão de futuro e isso, inevitavelmente, coloca maiores responsabilidades nos ombros das organizações em todo mundo.

A CMMAD define desenvolvimento sustentável assim: “Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazer as suas próprias necessidades.”

A responsabilidade social se conecta com o conceito de sustentabilidade, pois muitos problemas ambientais e má utilização dos recursos naturais, podem ocorrer em consequência da pobreza e da deficiência educacional, fazendo com que movimentos capitalizados, ONGs, ativistas e grandes influenciadores, atuem na redução das desigualdades globais.

Por fim, a gestão da sustentabilidade deve promover uma convivência harmônica entre o meio-ambiente, o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social. Contudo, essa harmonia ainda não existe além dos protocolos de intenção e no atual ritmo de utilização dos recursos naturais, o futuro das próximas gerações está comprometido, assim como o futuro de muitas empresas.

Sustentabilidade e responsabilidade social no âmbito empresarial

Informações sem fronteiras e com fácil acesso criam consumidores conscientes e críticos em relação às questões ambientais e qualidade de vida, fazendo com que as empresas considerem esses temas em seus planejamentos estratégicos. As demandas por redução da desigualdade, inclusão social, diversidade e todos os temas ligados aos direitos humanos, incluindo programas educacionais, sugerem que as organizações entendam que o mercado consumidor e os agentes financiadores darão preferência para empresas e produtos que tragam tais atributos em seu DNA.

Empresas que buscam longevidade e perpetuidade de resultados devem, também, gerenciar os recursos naturais de forma responsável e desenvolverem sistemas de produção mais eficientes. Marcas que são socialmente responsáveis, por propósito e não como instrumento de propaganda, serão mais respeitadas e naturalmente tendem a gerar mais valor.

Uma empresa socialmente responsável não se restringe a prestação de contas de suas responsabilidades legais, mas em promover ações sociais que vão além disso, praticar atitudes que promovam o bem-estar interno (corporativo) e externo (comunidade), apoiar causas sociais, educacionais, combater o trabalho infantil, escravo e ampliar todo esse conceito para sua cadeia logística.

ESG: Environmental, Social, Governance, ou, ASG: Ambiental, Social, Governança

Aqui entram as questões, financeira, societária e perenidade dos negócios e, logicamente, os interesses dos acionistas e o retorno sobre os investimentos. As boas práticas de gestão ambiental, social e de governança merecem atenção por estarem associadas a negócios sólidos.

Empresas com agenda ESG possuem melhor qualidade de gestão e isso soa como música para os ouvidos dos investidores, bancos e gestores de fundos de investimentos, que passam, também, a avaliar as empresas por meio da prática ESG e assim, criam índices que as classificam em níveis de gestão, sustentabilidade, governança e responsabilidade social.

Há vários índices no mercado financeiro com critérios ESG e fundos de investimentos compostos por empresas com tais práticas, que se tornaram parâmetros atrativos para investidores e rapidamente entraram na lista dos novos queridinhos do mercado, mas não é sem uma ótima razão. Os índices são as métricas que fornecem melhores informações sobre as companhias em que os investidores estão alocando capital, como a empresa se relaciona com questões ambientais, como gerencia e minimiza riscos, ou como depende e utiliza os recursos naturais. Também, como está inserida socialmente e de que modo monitora a gestão da própria organização. Uma boa governança tende a garantir que a empresa é ética e pouco susceptível a corrupção e práticas ilícitas.

Governança Corporativa

Quero clarificar esse conceito, ainda que superficialmente, segundo o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).

“Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas. As boas práticas de governança corporativa convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão, sua longevidade e o bem comum. Possui entre seus princípios básicos, a transparência, equidade (isonomia), prestação de contas e ampla responsabilidade corporativa”.

Gestão e agenda ESG no mundo corporativo

Os riscos relacionados aos aspectos ESG ganharam muita importância em decorrência de recentes catástrofes, acidentes ambientais e danos irreparáveis para muitas marcas, seja por causa disso ou por outros problemas relacionados às questões sociais e direitos humanos. Dois exemplos recentes, que naturalmente surgem a mente quando abordo essa questão, são os casos da Vale em Minas Gerais (ambiental) e do Carrefour em Porto Alegre (social). Contudo, há o lado positivo representado, recentemente, pela Natura e pelo Magazine Luíza, respectivamente, na diversidade e na inclusão social.

Valor e imagem de marca são ativos muito importantes para as organizações, que devem ser bem gerenciados e preservados, com visão de perenidade e sustentabilidade.

Tudo o que é risco precisa estar pautado nos Conselhos de Administração e as empresas devem colocar foco nisso, por meio da presença de conselheiros consultivos ou administrativos que apoiem uma agenda ESG, preferencialmente com visão estratégica de negócios. Outro tema que deve fazer parte da agenda de risco nos conselhos é a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Voltando ao ESG, as empresas que não consideram as questões sociais e ambientais em sua estrutura de gestão e governança, podem sofrer impactos negativos em curto, médio e longo prazos.

Coloque a agenda ESG no radar, seja no conselho de administração, no conselho consultivo ou, simplesmente, nos princípios e propósitos de gestão da sua empresa, independentemente do tamanho que ela tenha. Sua organização será medida por isso, cedo ou tarde. Esteja preparado para não comprometer o futuro estratégico do negócio, a criação de valor econômico e a imagem de marca.

Orlando Merluzzi *

* Conselheiro de administração independente, consultor de empresas e sócio-gestor da MA8 Consulting, atua no mundo corporativo há 36 anos.

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