O Conformismo Funcional nas empresas e a resiliência corporativa

O mundo corporativo deve muito da sua evolução às antigas organizações militares, desde a estrutura dos exércitos na Antiguidade, por meio de complexos organogramas virtuais, até a tecnologia de comunicação militar que possibilitou a criação da internet e derrubou as fronteiras de mercado. Embora as definições mais recentes creditem a criação do organograma corporativo ao engenheiro americano Daniel McCallum em 1856, que os utilizou em uma apresentação para mostrar a aplicação da Administração Sistemática em ferrovias, eles já existiam no modo funcional muito antes disso. Até hoje, as táticas militares e pensamentos estratégicos do general e filósofo Sun Tzu são cultuados no mundo corporativo, principalmente nas organizações que requerem elevado nível de resiliência, competitividade, motivação, disciplina e “faca nos dentes”. Ele morreu há mais de 2.500 anos.

As variações da organização hierárquica

Bem, quem quer que tenha efetivamente colocado os quadradinhos e as linhas de “report” no papyrus, não poderia imaginar que um dia os complicadores de plantão criariam as variações da organização hierárquica em organograma funcional, estrutural, circular, matricial, radial misto, virtual (esse é ótimo), capilar e outros que esqueço de citar. A questão é que, a confusão atingiu um nível de complexidade tal, que a essência de saber exatamente quem faz o quê e “quem manda em quem” perdeu-se na prática de muitas organizações. Basta olhar as estruturas de governança de algumas empresas com capital aberto e que divulgam seus relatórios a investidores na internet, para perceber que muitas filiais parecem estar acéfalas ou possuem mais de um “chefe” e estou falando, aqui, de grandes multinacionais com filiais ‘overseas’.

O que foi originalmente idealizado para tornar as organizações mais eficientes e flexíveis gerou, na realidade, um monte de despesas desnecessárias e custos-extra. Dificilmente, a organização admitirá isso, até o dia em que uma empresa de consultoria internacional for contratada para reestruturar a organização e reduzir custos e assim, implementar a política do “back on track and to the basis“.

Conformismo funcional e Resiliência Corporativa

O conformismo funcional corporativo é um princípio que impede a alteração das estruturas e funções corporativas estabelecidas, conflitando com a resiliência corporativa necessária para implementar as estratégias e táticas vitoriosas de antigos exércitos.

A resiliência corporativa exige, também, uma organização corajosa, resistente e austera, ao passo que o conformismo da corporação em sua forma estrutural expõe a organização, à vulnerabilidade e à fragilidade.

Algumas organizações se tornaram resignadas e absorveram, passivamente, as novas formas estruturais e suas ineficiências. Antagonicamente, exigem de seus novos executivos uma característica oposta de recuperação e resistência as pressões e alterações de ambiente, de forma que os líderes possam ressurgir das cinzas, ainda mais fortes após cada nova batalha.

É incrível como muitas lideranças, em todos os níveis, praticam a política do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”, uma enfermidade que precisa de tratamento alopático.

Dois clientes distintos solicitaram, recentemente, a busca executiva por profissionais de gestão comercial e para minha surpresa, as empresas definiram, em primeiro lugar na ordem dos requisitos, a busca por um profissional com resiliência. Perguntei a um deles, o que você entende por um profissional resiliente? E ele me respondeu: alguém que ao passar por uma situação difícil, consegue fazer o que fazia antes sem perder o foco e após um momento de adversidade, readaptar-se positivamente frente à nova situação. Humm… (o “humm” é meu, não do cliente).

Não há dúvida que um profissional flexível e com capacidade de se adaptar às mudanças navegará muito melhor no ambiente, mas imagino qual será o próximo “termo da moda” no mundo corporativo, com os novos cenários econômicos, novas crises e retração de mercado, que se instalaram.

Reli um livro, publicado originalmente há mais de trinta anos, chamado Swim with the sharks, without being eaten alive. Pelo título, ao “pé-da-letra”, [nade com tubarões sem ser comido vivo]; você pode imaginar como sua aplicação no mundo corporativo é intensa, resiliente, sistêmica e o resumo do Oráculo é lógico: whatever happens, never bleed, [qualquer coisa que aconteça, nunca sangre].

O pensamento corporativo de hoje encerra com uma frase atribuída ao General Sun Tzu:

“Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem é preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível”.

Boa reflexão corporativa

Orlando Merluzzi * (escrito e publicado originalmente, pelo autor, em outubro de 2015)


* Consultor em gestão, governança, estrategista de negócios e planejamento da sucessão, conduz a MA8 Consulting e é o criador e anfitrião no Portal Pensamento Corporativo.

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