Os jabutis corporativos e a crônica do Ancião

Tentar adquirir experiência apenas com teoria é como tentar matar a fome apenas lendo o cardápio. No mundo corporativo há quem faça esse tipo de dieta e é assim que surgem os jabutis em cima das árvores.

Ainda há – e sempre haverá em número reduzido – os gestores conhecidos como “jabutis do topo das árvores”. Eles existem e parecem ter subido por seus méritos, mas como jabuti não sobe em árvore, certamente alguém os colocou naquele local.

Sempre que posso, em palestras ou simples orientação individual, procuro transmitir confiança aos novos talentos de qualquer organização, quanto ao seu papel corporativo, em uma visão holográfica que lhe projete no futuro. Um dos ensinamentos transpostos está em desenvolver a habilidade de blindar-se contra os medos e contra os próprios jabutis organizacionais.

Toda corporação possui de alguma forma um “ancião” referência para situações vividas anteriormente e esse sábio corporativo pode estar dentro ou fora da organização. É aquele que não diz se um novo plano conduzirá a estratégia pelo caminho certo e atingirá o alvo em pleno voo, mas sabe dizer, com propriedade, se a ação vai dar errado, pois provavelmente vivenciou algo semelhante ao longo de sua vida profissional.

Os sábios corporativos não fazem espetáculos pirotécnicos nem anunciam abertamente a sua sabedoria. Os sábios corporativos agem reclusos, no modo “low profile”, mas eles estão em todos os lugares. É preciso despir-se da soberba, da prepotência e da arrogância para conseguir encontrá-los, pois eles virão até você naturalmente, se for o seu merecimento. A razão pela qual agem dessa forma é para se distanciarem dos jabutis, pois esses têm por princípio abater os sábios como se estivessem eliminando o inimigo, com o receio de que o ancião aponte o farol e os ilumine no topo das árvores.

O mundo corporativo, felizmente, possui muito mais talentos com luz própria em todos os níveis hierárquicos. Esses são amigos dos anciãos e sabem que podem contar com sua sabedoria nas horas mais difíceis e nos momentos de crise. Assim, as organizações competentes, formadas por profissionais éticos e comprometidos, passarão pelas crises sem a necessidade de obterem novas cicatrizes em suas peles, pois bastará conhecer o formato de cada cicatriz no rosto e nas costas dos anciãos.

Quanto aos jabutis, diz o ancião que o tempo é senhor de seus próprios destinos e eles não conseguirão se manter nas copas das árvores após a primeira ventania.

O mundo corporativo é um longo caminho a ser percorrido de forma lenta e gradual e a cada passo, um novo aprendizado. Após muitos anos, resultarão no grau de sabedoria corporativa do ancião. Até os próprios jabutis corporativos podem, um dia, se tornar sábios, mas se optarem pelo “lado negro da força”, cedo ou tarde enfrentarão um “ancião Jedi”.

É preciso saber ler as entrelinhas das mensagens; elas surgem a todo instante e quem não consegue fazer essa leitura, terá maior dificuldade de conviver nesse ambiente e provavelmente preferirá culpar o “sistema” por seu próprio fracasso.

autor: Orlando Merluzzi

Texto original publicado em 2015, na série Lendas, Mitos e Verdades do Mundo Corporativo e no livro Potência Corporativa, do mesmo autor

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