Procure dar menos audiência para quem não tem bola de cristal e propaga o terror do desemprego no futuro, com a frase: “você vai perder seu emprego por causa das novas tecnologias”. Não, isso não é verdade.
Esse tema tem sido recorrente. Há uma legião de discípulos de Nostradamus tentando adivinhar quais as profissões que deixarão de existir no futuro. Algumas teses chegam a ser bizarras, mas geram interesse, plateia e há muitas pessoas ganhando dinheiro com isso.
Recentemente, li que um desses novos gurus propôs a adoção de uma renda mínima básica global, patrocinada pelas empresas de tecnologia responsáveis pela criação e disseminação da inteligência artificial. Como essas empresas seriam as causadoras da extinção de milhões de empregos ao redor do mundo, nada mais justo que as pessoas, que perdessem o emprego e não tivessem condições de se atualizar para uma nova profissão, recebessem uma renda a título de compensação.
Uma tese que nasce morta
A tese respalda-se na lógica, mesmo que distante, de pessoas com mais de cinquenta anos de idade, que não teriam tempo para adquirir uma nova formação e poder trabalhar em um novo mundo, cheio de robôs, drones autônomos, máquinas que se auto reproduzem, etc. Porém, é uma tese que nasce com vícios de origem.
Em primeiro lugar, a idade não é mais fator de limitação, nem para exercer uma profissão, nem para aprender novas tecnologias, afinal, o futuro trouxe o aumento da expectativa de vida, com qualidade física e mental e quando as máquinas estiverem dominando o mundo, as pessoas estarão começando a pensar em aposentadoria após os oitenta anos de idade. É a Sociedade 5.0, que chegará mais rápido nos países desenvolvidos.
Toda semana há uma nova pesquisa, sem fundamento, de universidades ou grandes consultorias para apavorar as pessoas quanto ao futuro das profissões.
Acho muito interessante que os índices são quase convincentes: “das habilidades exigidas para as novas profissões, daqui a quinze anos, apenas 30% dos profissionais de hoje as possuem”, ou então, “60% das novas profissões, em 2030, ainda não foram criadas”. Baseados em quê, essas pessoas divulgam esses índices? É evidente que isso não tem fundamento científico ou estatístico. Servem apenas para gerar impacto.
Ao analisarmos as mais recentes tecnologias dos últimos trinta anos – não menos disruptivas do que as previsões para o futuro – veremos que as pessoas não perderam os empregos por causa delas, pelo contrário, surgiram novas profissões para uma geração que já estava na adolescência. Os computadores pessoais, a internet, o telefone celular, as mídias sociais, as plataformas de vídeo, a conectividade, as criptomoedas, fizeram surgir novas empresa e profissionais bem-sucedidos, mas com habilidades e aptidões que já possuíam antes. As pessoas não perderam o emprego por isso, mas novas oportunidades surgiram para todos.
Com a inteligência artificial vai acontecer exatamente a mesma coisa.
Motoristas de ônibus não perderão os empregos por causa dos carros autônomos e talvez eles mesmos nem queiram mais exercer essa profissão, pois outras oportunidades se apresentarão como mais interessantes, mas não se iludam com elementos de propaganda e promoção de marcas, pois, o mundo não será cem por cento autônomo, nem daqui a cem anos.
A inteligência artificial fará boa parte do trabalho, mas não irá substituir os advogados, os médicos, os engenheiros, os padeiros, os farmacêuticos e mesmo que substitua alguns caixas de supermercado e entregadores de pizza, não veremos um exército de Robocops patrulhando as ruas das cidades. Bem, se eu consultar as fontes das pesquisas que citei anteriormente, provavelmente dirão que os policiais robôs irão roubar 75% dos empregos dos policiais até o ano de 2080.
As novas tecnologias trazem uma mudança de comportamento das pessoas, mas não mudam o comportamento daqueles que já nascem sob o guarda-chuva da nova era digital. Aproveitando que mencionei um equipamento vintage, o guarda-chuva, está aí algo que a nova tecnologia não deverá eliminar, ou será que 60% da chuva, daqui a noventa anos, não molhará mais as pessoas por causa das novas tecnologias?
Devemos saber conviver com as expectativas de futuro, entendê-las, mas não nos deixarmos contaminar com essa “vibe” de que o futuro vai condenar boa parte dos profissionais de hoje e quem não se reinventar rapidamente não terá como sobreviver na “Revolução 4.0”.
Os profissionais e os modelos de gestão têm sido obrigados a se reinventar desde a Indústria 2.0.
Creio ser prudente recomendar, aos influenciadores, menos terror sobre esse tema e mais responsabilidade, por favor.
Orlando Merluzzi
Oi, Orlando: parabéns pelo excelente artigo que vai na direção oposta dos “ conhecedores de plantão”e que nos faz refletir sob outra perspectiva a respeito. Um abraço, Lili
Enviado do meu iPhone
Orlando, excelente definição sobre as novas tecnologias . Estas pesquisas só servem para formar uma geração frustrada e sem visão da importância de cada um no mercado de trabalho, hoje e amanhã.