Ética, uma reflexão para a vida e para as organizações

“Um manifesto em favor da Ética, da Moral e da gestão das emoções no mundo corporativo público e privado”

Trecho do livro: Potência Corporativa, 2017, Ed. Pensamento Corporativo, autor: O. Merluzzi

Ao lado de Platão, Aristóteles carrega a Ética a Nicômaco.
Obra: Escola de Atenas – de Raffaello Sanzio, 1510
Nela podem ser vistos também, Zeno, Epicuro, Pitágoras, Sócrates, Heráclito, Euclides, Ptolomeu e até o próprio Rafael.

Vivemos tempos de mudança. Todos os dias somos surpreendidos com notícias bombásticas e, mais recentemente, a sobreposição de fatos alarmantes no campo empresarial, político e diplomático nos atinge com tanta velocidade que nem conseguimos absorver o primeiro impacto e, pronto, lá vêm novas notícias trazendo mais do mesmo.

Convido-os para uma reflexão, livre de emoções, sobre os limites da Ética e até onde se confundem com valores na vida corporativa.

Recentemente, ouvi em uma importante emissora de rádio de São Paulo, a entrevista de um executivo responsável por recursos humanos em uma grande empresa que, ao ser perguntado sobre qual a principal característica que o profissional deve ter para ser contratado, sua resposta foi: “Acredito que integridade e honestidade estão em primeiro lugar”. Com todo respeito ao nobre profissional entrevistado, penso que esses atributos jamais deveriam ser classificados na lista de características de uma pessoa, pois trata-se de algo tão básico e que naturalmente esperamos ver em um ser humano, que se torna precípuo antes de iniciarmos uma conversa com alguém. Para mim, um bom profissional precisa ter atitude, postura, otimismo, competência e ambição. Integridade e honestidade não se discutem. Retidão deve ser demonstrada no palco e nos bastidores.

Não quero com isso dizer que vivemos uma inversão de valores da classificação e grau de importância dos aspectos éticos. Vemos diariamente a deterioração dos princípios morais por corruptos e corruptores, gerando indignação nas mídias sociais, disputas ideológicas passionais e acusações mútuas entre facções de adoradores de discursos, mas não pensem que isso não tenha intensidade semelhante na vida privada e no mundo corporativo. Felizmente, a consciência está aflorando pela liberdade de imprensa, pensamento, expressão e capacidade de julgamento e, assim, vejo um viés positivo na luta entre o bem e o mal e, quem sabe, um futuro melhor para nossos netos. A ética está vencendo, aos trancos e barrancos, mas triunfará.

Como sempre faço quando toco nesse tema, procuro relembrar conceitos daquilo que chamo de “atributos do bem”.

Para que compreendam a diferença de ética e moral, uso uma metáfora: Moral é o que pode azedar o seu fígado, mas a ética é imparcial em qualquer situação. Moral são regras aceitas por um grupo, ou seja, para os corruptos e corruptores, suas ações estão dentro de seus valores morais e o fim justifica o meio.

Por isso, vemos corrupção também no mundo corporativo, público e privado, desde um grande contrato para construção de uma usina ou uma fábrica a um simples fornecimento de pequenos serviços de alimentação ou manutenção, mas quando os atores são expostos, inevitavelmente são crucificados no código de conduta das organizações sérias e idôneas. Sim, elas existem. As empresas condenam o que é imoral para nossos padrões de julgamento. Quais são eles? Aqueles atributos precípuos a que me referi anteriormente.

A ética é uma reflexão sobre o que é moral e aí está o “grande perigo”, pois, tudo dependerá da capacidade de julgamento, a qual está intimamente ligada à Educação. Se pensarmos nos pontos falhos do desenvolvimento das gerações futuras, provavelmente a educação e a formação do indivíduo no núcleo familiar aparecerão entre os primeiros na lista de problemas. Assim, uma deficiência na capacidade de julgar pode comprometer o entendimento das diferenças entre o que é moralmente aceito e eticamente correto.

Estou entre aqueles que afirmam que, uma entre as crises que o ser humano enfrenta hoje é a crise de valores, pois essa pode afetar a humanidade, que passaria a viver de forma mais egoísta, cruel e violenta – espero que a “Era de Aquarius” possa ajudar a corrigir esse bug na evolução humana – e daí a desesperada necessidade de bons exemplos na sociedade, que transmitam importantes valores humanos para assegurarmos um futuro melhor em todos os aspectos.

No mundo corporativo os valores da empresa determinam o comportamento da gestão e passam pela consciência de conselhos e conselheiros. No ambiente eticamente aceito, uma empresa sustentável deve propagar e se apoiar em valores como respeito às pessoas, responsabilidade social, transparência e, é claro, integridade e honestidade, mas nem por isso devo perguntar a um candidato se ele é honesto ou íntegro, mas certamente perguntarei sobre suas ações sociais e responsáveis. Normas e princípios morais da corporação devem ser transmitidos em forma de cascata a todos os colaboradores e parceiros comerciais. Valores de uma corporação são pilares da sua cultura organizacional, devendo ser praticados e não usados apenas como adorno em um quadro cujo título é “Missão, Visão e Valores”.

Em qualquer sociedade, quem segue as regras é uma pessoa moral e quem as desobedece, uma pessoa imoral. Aqueles que possuem maior poder de influência, seja pela oratória, força ou capacidade financeira, estabelecem o que é moral e o que é imoral – outra enorme preocupação que tenho com os políticos e com a política.

Se os jovens tiverem capacidade para refletir sobre as regras – que formam a moral – assim se constituirá a ética, pois não errarão na reflexão. Formação, educação e ética estão intimamente ligados e o único caminho para seguirmos precisa ser pavimentado em um esforço coletivo, de toda sociedade, deixando de lado ideologias extremas que separam nós e eles, para melhorar a educação e o sistema de ensino. Faremos dessa forma um País mais ético, nem que nos custe uma geração ou mais. Isso refletirá na vida, na sociedade, nas organizações, no modo de pensar o bem e a responsabilidade social, no papel das empresas públicas e privadas e, até, no redesenho de alguma governança corporativa.

Continuo insistindo na educação como único caminho para o resgate de valores morais. Mais ação e menos discurso. Quanto mais cedo começarmos, talvez tenhamos a sorte de sacrificar apenas a próxima geração, para que nossos bisnetos possam nascer em um mundo mais ético.

Uma parcela pequena conhece a diferença entre ética e moral, ambas possuem significados distintos. Para que eu possa embasar a conclusão, devo esclarecê-las em um contexto filosófico. A palavra “moral” tem origem no termo latino “morales” que significa “relativo aos costumes”. A palavra “ética” vem do grego “ethos”, que significa “modo de ser” ou “aquilo que pertence ao caráter”.

O que se entende por moral é um conjunto de regras que orientam as ações e o julgamento sobre o que é bom ou mal, o que é certo ou errado. Se, por exemplo, uma classe de pessoas tem como regra usufruir o que não lhe pertence e se apropriar do que não lhe é devido, essa é sua moral e ela não está errada segundo suas regras. Contudo, na ética do cidadão de bem, isso é imoral, ou seja, a ética aflora da análise e investigação do comportamento humano ao tentar explicar as regras morais de forma racional. Ética é uma reflexão sobre a moral. Ambas são responsáveis por construir as bases de convivência, conduta, forma de agir e de se comportar em sociedade. Mas atenção: o que é moral em uma sociedade pode não ser ético em seu juízo.

Num sentido prático, o conceito é compreendido analisando as condutas de alguns profissionais, tais como médicos, jornalistas, advogados, empresários ou políticos. Há expressões como: ética médica, ética jornalística, ética empresarial e ética pública. Isso é espírito de corpo e autodefesa corporativa. Está errado, pois aqui a ética se confunde com lei, quando a lei é que deveria ter como base os princípios éticos.

A moral deve orientar o comportamento do homem diante de normas instituídas pela sociedade. Diferencia-se da ética no sentido de que esta tende a julgar o comportamento moral de cada indivíduo no seu ambiente. Em tempo, ambas buscam o bem-estar social por caminhos distintos.

Ser ético é agir dentro dos padrões convencionais e não prejudicar o próximo. Ser ético é fazer o bem, pensar o bem, promover o bem, mesmo quando os holofotes sobre você estão desligados. É cumprir os valores estabelecidos pela sociedade em que se vive. Bem, agora precisamos entender o que são valores.

Uma definição que me agrada é: “Valor é uma experiência transmitida ou vivida que elegemos e aceitamos para dar sentido à nossa vida cotidiana, resultando em valores éticos ou de consciência que orientam a conduta – valor moral.  É o valor ético que controla a vontade do indivíduo, independentemente de ele estar sozinho ou em grupo”. É o que leva o indivíduo a fazer autocensura por reflexão espontânea e não passar por cima de seus valores, por estar só e ninguém observar suas ações.

Se a moral incorpora as regras que temos de seguir para viver em sociedade e essas regras são determinadas pela própria sociedade, então torna-se perigoso para um futuro próximo – sendo que isso tem me preocupado sobremaneira – que a deficiência educacional e a pouca capacidade de juízo sobre o que é certo ou errado, possam estabelecer parâmetros morais bizarros e inaceitáveis sob o crivo da correta análise ética.

Em qualquer sociedade, quem segue as regras é uma pessoa moral; quem as desobedece, uma pessoa imoral. Assim, aqueles que possuem maior poder de influência, estabelecem o que é moral e o que é imoral.

Eu queria muito poder dizer aos jovens, de uma forma que eles realmente escutem e reflitam, conectando seus neurônios ainda não manipulados, para agirem de forma que sua conduta seja um exemplo para todos. Se eles tiverem a capacidade de refletir sobre as regras – a moral – então essa capacidade de pensar se constituirá em ética.

Formação, educação e ética estão intimamente ligados. Somente um esforço de toda sociedade para melhorar nossa educação e nosso sistema de ensino farão do Brasil um país mais ético, com valores inegociáveis e inquestionáveis.

Orlando Merluzzi

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