Talvez, poucos tenham notado que os primeiros nascidos da Geração Y estão chegando aos 40 anos de idade, ainda sem grandes realizações, muitas dúvidas sobre o futuro e com alguns ensinamentos que a vida lhes obrigou a aprender “na marra”, vencendo a resistência característica de uma geração inquieta, brilhante, um pouco prepotente e as vezes dona da verdade. É compreensível, pois nasceram na década perdida de 80 e só entraram no mundo corporativo após a estabilização monetária e ainda se beneficiaram do expressivo crescimento econômico da década passada, quando o país teve que importar até mão-de-obra em alguns setores.
Muitos da Geração Y viveram nos últimos quatro anos a sua primeira grande crise (que felizmente passou) e alguns estão desempregados pela primeira vez na vida, experimentando uma indigesta sensação que a turma da Geração X conheceu muito bem nas crises anteriores, mas com uma diferença: a vida hoje começa aos 40.
Eu me lembro que em fevereiro do ano de 2000 uma respeitada revista estampou em sua capa um bolo de aniversário com o título “a morte começa aos 40”. A matéria caiu como uma bomba e foi rejeitada no mundo corporativo, pois a revista não conseguiu perceber as rápidas mudanças naquele ambiente e o estrago que novas teorias e conceitos acadêmicos haviam causado em muitas empresas, incluindo a famosa “Reengenharia” da década de 90, um quase engodo que custou caríssimo a muitas organizações, tema sobre o qual já falei em outros artigos.
Talvez a matéria de capa mencionada tenha sido seu grande erro e paradoxalmente essa mesma revista publicou anos mais tarde, uma extensa lista de personalidades e empresários que obtiveram sucesso e reconhecimento após os quarenta anos de idade.
Grandes gurus acadêmicos trouxeram muita inovação para o mundo corporativo com novas formas de gestão, mas é fato que alguns deixaram um legado de problemas e as organizações tiveram que corrigir posteriormente.
Uma das vantagens da Geração Y sobre a Geração X está na forma de aprendizado corporativo e nas oportunidades, quase infinitas, de absorção de conhecimento que a tecnologia lhes fornece. Bem, aí surge um risco e o desafio de saber identificar o que realmente tem valor entre tantas informações, cursos e opiniões disponíveis na web, pois continuo cético quando vejo nas mídias sociais, jovens com menos de 35 anos publicando vídeos diários com lições de vida e ensinando o “caminho das pedras” para o sucesso profissional e pessoal. Pior ainda, milhares os seguem, mas a grande maioria se decepciona ao ter que enfrentar a realidade da vida e do mundo dos negócios aqui em baixo, na Terra.
Na minha geração, talvez a grande e nobre fonte de conhecimento tenha sido a enciclopédia Barsa – que coisa mais arcaica. Havia também o Estadão de domingo que pesava meio-quilo, começávamos a ler as 10h e terminávamos na terça-feira, mais ou menos. Aprendíamos as lições do mundo corporativo “on the job”. Hoje os jovens das novas gerações do alfabeto podem assistir gratuitamente no YouTube a uma palestra de pessoas fantásticas, riquíssimas em conteúdo corporativo, comportamento, “cases” de sucesso e dicas valiosas para a vida dentro e fora das corporações.
Um vídeo de apenas 45 minutos com Abílio Diniz, Jack Welch, Steve Jobs, Jorge Paulo Lemann, Flavio Augusto da Silva ou tantos outros grandes nomes com credibilidade, pode valer mais do que um ano inteiro de estudos em uma universidade, pois essas pessoas, além de muito a ensinar, transmitem atitudes e “insights” condensados.
Que privilégio para os jovens terem disponíveis conhecimentos preciosos literalmente na palma da mão em um smartphone, mas precisarão readquirir a capacidade de comunicação e resiliência para vencer sua primeira frustração, seu primeiro desemprego e terem sucesso em seu maior empreendimento de hoje para o resto de suas vidas.
Conduzir uma organização não é tarefa simples e requer algo que vai além dos ensinamentos, capacidade de inter-relação pessoal, habilidade política e pulso firme. Mas há algo que a Geração Y, que está chegando ao poder corporativo, possui e lhe garante mais uma vantagem, ou seja, além de saber lidar com demandas multitarefas, trata-se de uma geração mais adaptada ao trabalho em equipe, a diversidade e a consciência social e ambiental. Ponto para eles! Falta-lhes apenas abandonar a informalidade e lembrar que a maioria dos conselhos administrativos nas corporações ainda são compostos por profissionais da geração anterior.
A recente crise assustou as novas gerações, pois nunca haviam enfrentado situação semelhante no País, por sua pouca idade, mas estou certo que os mais estáveis emocionalmente já perceberam a necessidade de absorver alguns comportamentos e práticas das gerações anteriores, que ainda comandam a maioria das organizações. Entre tal absorção devem estar o interesse pelas entrelinhas da notícia, a boa política, a ética e o respeito pelas gerações anteriores e seus ensinamentos, os quais a tecnologia não consegue transmitir. E quanto a crise? Bem, felizmente passou, assim como passaram as recentes 17 crises que o Brasil enfrentou nos últimos 35 anos.
Orlando Merluzzi