Setor editorial e o mercado livreiro estão sofrendo de doença autoimune

Opinião: por Orlando Merluzzi

A crise das livrarias e das editoras não é culpa da internet, mas da falta de união, amadorismo e oportunismo, além, é claro, de deficiências na gestão do negócio.

Como anfitrião no Portal Pensamento Corporativo sinto-me a vontade para falar sobre o tema. Quem me acompanha sabe que o Portal não tem fins lucrativos e tem como objetivo difundir as boas práticas da gestão, governança, ética e, principalmente, a educação.

Na semana passada acompanhei um interessante debate na rádio CBN sobre quais alternativas o mercado editorial pode adotar durante a pandemia da Covid-19. Com exceção aos temas discutidos para a sobrevivência do setor, em decorrência do momento atual, todo o restante me lembrou as mesmas discussões travadas há quinze anos, com a diferença que hoje, as duas maiores livrarias do país (Saraiva e Cultura) entraram em recuperação judicial e quem poderia imaginar essa situação há dez anos?

Mais autores que leitores

A sensação é que o Brasil tem mais autores que leitores e isso soou como canto da sereia para algumas editoras que, como se tivessem descoberto a fórmula mágica, passaram a vender as edições e impressões de autores com pouco conteúdo e qualidade questionável. É muito fácil publicar um livro no Brasil, basta pagar e a editora faz quase tudo para você, só não vende o livro. Isso fez com que o negócio sofresse uma mutação em seu DNA.

Alguns livreiros alegam que a internet é a culpada e hoje as pessoas não compram livros, pois podem baixar a versão eletrônica. Em minha opinião, essa é uma visão simplista e uma desculpa para a falta de planejamento estratégico no próprio setor, o que deveria ter ocorrido lá atrás, ao final da década de noventa e início dos anos dois mil. Da mesma forma, a Amazon também não pode ser culpada por ter asfixiado o setor livreiro, vendendo livros eletrônicos com preços simbólicos (alguns gratuitos) para alavancar o seu outro negócio, o principal deles, o comércio eletrônico de quase tudo.

Em tempo, quem gosta de ler um livro, gosta de visitar as livrarias, pegar o livro na mão, sentir, interagir com ele.

É uma coisa que algumas pessoas não conseguem entender, mas também, não frequentam livrarias e não leem além das manchetes nos jornais ou nos portais de notícias.

Dificilmente, leitores de livros em papel sentem-se satisfeitos em ler um livro na versão “e-book”, é como beber cerveja artesanal em um copo plástico ou degustar um vinho finíssimo em um copo de requeijão.

Desenvolvendo a doença autoimune

Ao mudarem o foco do seu negócio, viabilizando a publicação de livros com pouca qualidade e massificando a quantidade de autores sem conteúdo sólido, em troca da lucratividade da edição e impressão, transferindo o risco (afinal, o dinheiro já está no caixa), algumas editoras cavaram sua própria sepultura. Aí surgiu um tipo de doença autoimune no setor.

Por fim, a crise no setor livreiro e editorial não é somente estrutural (apesar dos erros de gestão cometidos por algumas empresas), mas também da enorme deficiência de educação básica por qual passa o Brasil e infelizmente, esse cenário parece estar piorando. Adolescentes e jovens que crescem sem conseguir interpretar um texto, sem o hábito da leitura de qualidade, limitando sua cultura às discussões de redes sociais ou letras de funk composto por um “MC” qualquer, não dão muita esperança ao futuro do mercado de livros.

Assim, é preciso retornar a base do problema: a educação básica no Brasil. Aqui tudo começa.

Orlando Merluzzi (*)


(*) – gestor, consultor de empresas, palestrante e CEO da MA8 Management Consulting Group. Criador e anfitrião no Portal Pensamento Corporativo.

4 respostas para “Setor editorial e o mercado livreiro estão sofrendo de doença autoimune”

  1. Concordo plenamente. Para a edição de um livro, teria que haver critérios com relação a literatura da matéria que se pretende. Análise de conteúdo e vocabulário. Os bons custumes na língua há que se preservarada. Um país que no calor da suposta pandemia, preteriu os alimentos, a enormes quantidades de fardos de papel higiênico, fazer o quê??

  2. Nunca tivemos uma política de inclusão social e escolar. Como a educação principalmente da escola pública não forma cidadãos e sim contribui para a reprodução da desigualdade. Temos uma escola desmotivadora que contribui para a alienação. A falta de ética e a corrupção impregnada em todas as esferas contribui para a formação de gerações sem esperança de um futuro melhor. O avanço da tecnologia também contribui para a alienação de uma época de Modernidade Líquida tão bem descrita por Bauman. Portanto, ao mesmo tempo que parece fácil explicar essa “crise”, tal assunto é de uma complexidade enorme, porque envolve mais de 500 anos de história de exclusão.

  3. Sou da opinião, enquanto existir livros haverá esperança. São eles os fios condutores para peças de teatro, narrativas de personagens envolvidos com a música, poesias e crônicas. Projetos assim, tendo o livro como um poderoso convite para levar os leitores aos teatros, praças de Shoppings envolvendo a arte, o produto final é o livro encanta o público e rende dividendos. Possibilitando facilmente cultura a todas as classes sociais. A cegueira das Editoras nas últimas décadas para novos talentos fizeram com que os tornacem grandes vendedores de livros nos seus próprios eventos levando o livro onde o leitor esta. Minha experiência mais recente com a Saga Benjamim o Caçador de poetas, o Empresário, o Artista esse aprovado no Projeto Rouanet, Benjamim e os artistas lançamento em maio próximo. A média é de 3000 unidades são vendidos com facilidade nós eventos e palestras do escritor. Estamos vivendo um momento delicado, consigo vender muitos livros nos sebos Universitários que já estão virando grades vendedores de livros novos…

  4. Achei importante a matéria, porém dentro de meu conhecimento, não é só os alunos,tem professores também.
    Nos cursos superiores “Direito” tem prof. Que nunca entrou num forum, nunca participou de audiência e é prof.
    Suas bibliografias são xerox, resumos,
    Apostilas etc, raramente o aluno tem Bib.completa de livros.

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